Recent Posts

sábado, 16 de outubro de 2010

Vinho Português,um negócio de familia !!!

                       


As famílias do vinho

De norte a sul do país, o vinho continua a ser um negócio de família. Uma paixão que atravessa gerações. 
A história que fez o sucesso do negócio de vinho da família Guedes tem raízes na Quinta da Aveleda, em Penafiel. É la que, há mais de setenta anos, se produz o rei dos vinhos verdes portugueses, o Casal Garcia. Para contar esta história, é preciso recuar quase cinco séculos. Sobre a porta da capela anexa à casa senhorial da quinta - que hoje serve de residência de férias da família  -  há uma inscrição que situa em 1671 a construção do edifício, mas os primeiros documentos de propriedade remontam ao século xvi. Ao longo dos anos, a quinta foi passando de mão em mão até chegar, em 1850, às do então deputado e presidente da Câmara de Penafiel, Manoel Pedro Guedes de Silva da Fonseca, que, cansado da vida política, decidiu ali fixar-se.
«Era uma pessoa de grande visão e força de vontade. Apaixonou-se pela quinta e começou a investir nela, adquirindo terrenos vizinhos, fazendo obras, plantando vinhas e construindo até uma adega - hoje conhecida como Adega Velha - com capacidade para trezentas pipas, quando na altura apenas produzia nove. Ele sabia que o futuro desta casa seria o vinho», conta António Guedes, actual presidente da empresa.
A invasão da filoxera, no início da segunda metade do século xix, destruiu muitas das vinhas plantadas, mas não quebrou o entusiasmo de Manoel Guedes da Fonseca. Recorrendo a mão-de-obra galega, procedeu à reconversão da vinha, utilizando técnicas inovadoras para a época, como o alinhamento das vinhas em bardo - as videiras eram conduzidas em arames colocados a quarenta centímetros uns dos outros em vez da tradicional cultura de videiras a trepar árvores desalinhadas, possibilitando assim alguma mecanização de tracção animal - e começou a produzir vinho, sobretudo tinto, mas também algumas experiências com brancos. Quando o ex-deputado morreu, em 1889, o negócio estava, porém, ainda longe de ser lucrativo. «Quando se vendia uma pipa, era dia de festa», recorda António Guedes.
Os dois filhos de Manoel, Fernando e Manuel, seguiram com a produção, mas foi só em 1947, um ano após a morte do primeiro, que os descendentes constituíram a Sociedade Agrícola da Quinta da Aveleda, génese da Aveleda SA. Dos sete irmãos, Roberto Guedes, avô do actual presidente da empresa, era o único que trabalhava na quinta e foi com ele que a Aveleda começou a engarrafar o seu primeiro vinho, o Casal Garcia (ver caixa), que viria a transformar-se num avassalador sucesso de vendas nos quatro cantos do mundo.
Um êxito, afirma António Guedes, que se deve à essência «leve e refrescante» do vinho que, por ter baixa graduação alcoólica, «respeita a inteligência». «Pode beber-se moderadamente sem nos afectar», sublinha o responsável da Aveleda.
Hoje, a empresa familiar é uma das três maiores do sector, sendo líder do mercado dos vinhos verdes e encontrando-se entre as companhias lusas que mais vinhos engarrafados exportam, estando presente em mais de noventa países de todos os continentes. Só em 2009 foram mais de 14 milhões as garrafas vendidas, o que representou uma receita de 29 milhões de euros.
Além do Casal Garcia, a casa de Penafiel produz o Quinta da Aveleda, o Aveleda Fonte, o Charamba (do Douro), vários vinhos da região da Bairrada, uma gama de vinhos baptizada Follies, cinco vinhos de castas diferentes, e uma aguardente, a Adega Velha. No Verão, lançou uma nova proposta, o AVA, um vinho de mesa branco, leve e refrescante, que pretende afirmar-se pela sua «excelente relação qualidade-preço», explica Martim Guedes, sobrinho de António e administrador da empresa. Apesar do vinho ser a imagem da Aveleda, a empresa produz também, desde 1987, dois tipos de queijo, um curado e um amanteigado, comercializados com a marca da quinta.
Ao todo, seis membros do clã Guedes trabalham no grupo Aveleda: além dos irmãos António e Roberto Guedes, também os sobrinhos Francisco, Martim, Teresa e António.
Roberto e Teresa trabalham noutra empresa do grupo, o Zoo de Santo Inácio, em Avintes, Vila Nova de Gaia. Qualquer novo membro da família que pretenda trabalhar na empresa terá de obedecer a critérios há muito definidos num protocolo familiar negociado pelos seis irmãos Guedes, respectivos cônjuges e filhos, e que define, entre muitas outras coisas, as regras de admissão de um familiar. «Costumo dizer que não somos a Santa Casa da Misericórdia», explica António Guedes. «Por exemplo, qualquer membro da família tem de trabalhar dois anos fora antes de poder ser admitido. E tem, claro, de ser uma mais-valia para a empresa.»
Também Guedes, mas da Sogrape
A Quinta da Aveleda não é a única ligação do clã Guedes ao vinho. A cerca de quarenta quilómetros de Penafiel, em Gaia, Salvador e Fernando Guedes, primos de António Guedes, lideram a Sogrape, outro dos gigantes do sector. A história desta empresa começou a ser escrita numa noite de Verão de 1942. Num jantar de amigos, Fernando van Zeller Guedes, então um dos sócios da Quinta da Aveleda, decidiu aceitar o desafio para lançar e dirigir uma nova empresa de vinhos.
Pouco depois, nascia a Sociedade Comercial dos Vinhos de Mesa de Portugal, hoje Sogrape Vinhos, SA, que integrava alguns sócios da casa de Penafiel e incorporava no seu ADN a «vocação para a exportação e a ambição de dar a conhecer ao mundo os vinhos de mesa portugueses», explica Salvador Guedes, neto do fundador, à frente dos destinos da empresa desde 2001, altura em que sucedeu ao pai, Fernando Guedes.
O desafio era também uma necessidade: numa conjuntura de guerra, tornava-se imperativo encontrar mercados onde os novos vinhos pudessem entrar e fixar-se com naturalidade. Sem surpresa, o Brasil, com uma vasta comunidade portuguesa, foi o primeiro a receber aquele que se tornaria o grande embaixador da Sogrape, o Mateus Rosé (ver caixa).
Mas o grande salto deu-se na segunda metade da década de 1950, com a afirmação em Inglaterra. Estava conquistada a «montra do mundo», como lhe chamava o fundador da Sogrape.
Ajudada pelo sucesso do Mateus Rosé, a Sogrape cresceu até se transformar na empresa líder no país no sector dos vinhos de mesa. Hoje, comandada pela terceira geração da família, que detém uma posição maioritária nas empresas do grupo, tem mais de 1200 hectares de vinha nas principais regiões vinícolas portuguesas, mas também na Argentina, no Chile e na Nova Zelândia. A expansão dos mercados foi acompanhada de uma diversificação da oferta. «Temos hoje um portfólio alargado, que vai dos vinhos de mesa das principais regiões aos vinhos do Porto e brandies», sintetiza Salvador Guedes.
Ao Mateus Rosé sucederam-se outros sucessos de vendas, como o verde Gazela, lançado nos anos 1980 e relançado, com grande sucesso, em 2004, ou o Grão Vasco, do Dão. Ao mesmo tempo, a aquisição de casas prestigiadas, como a Ferreira (com as marcas Ferreira para os vinhos do Porto e Casa Ferreirinha para os vinhos do Douro), reforçou a presença da empresa na Região Demarcada do Douro. «Temos afirmado a nossa vocação como uma empresa de marcas de grande volume de vendas, embora também tenhamos marcas de nicho. O que nos deixa contentes é o facto de, apesar da crise, continuarmos a ter um crescimento da ordem dos dez por cento ano. Esse é o maior reconhecimento que podemos ter», garante o CEO da empresa.

Roquette, do Douro ao Alentejo
Outro apelido, Roquette, tem mais ressonância no mundo do vinho. Está ligado a alguns dos mais reconhecidos vinhos portugueses. A norte, no vale do Douro, Leonor e Jorge Roquette, com a ajuda dos filhos Tomás e Miguel, transformaram a Quinta do Crasto no berço de vinhos de excelência que conquistaram os mais reputados críticos internacionais; a sul, no Alentejo, José Roquette, irmão de Jorge, lidera a Herdade do Esporão, que produz alguns dos melhores vinhos da região. E há ainda João Roquette, irmão de Jorge e José, que se estabeleceu no Brasil e montou a distribuidora Qualimport, que importa e vende, em exclusividade, os vinhos das duas casas.
Abrigada na margem direita do Douro, entre o Pinhão e a Régua, a Quinta do Crasto é um nome relativamente novo no panorama vínico nacional. Apesar das primeiras referências à propriedade remontarem a 1615, foi só em 1981 que Jorge e Leonor Roquette - neta de Constantino de Almeida, afamado produtor de brandy e de vinho do Porto - decidiram adquirir a totalidade da quinta, que se encontrava dispersa pela família, e investir na sua modernização. Com a ajuda de Cristiano van Zeller, um dos ex-proprietários da lendária Quinta do Noval, e dos dois filhos, Roquette abandonou a carreira no sector financeiro - foi, por exemplo, administrador do BPI - e lançou-se num projecto de produção de vinhos de mesa e do Porto de altíssima qualidade.
A distribuição com marca própria só começou em 1994, mas o sucesso foi imediato. Desde 1997, ano em que o prestigiado International Wine Challenge organizado em Londres pela revista Wine Magazine atribuiu ao Quinta do Crasto de 1995 o prémio de Vinho do Ano, não mais cessaram as distinções dos principais críticos e publicações internacionais. Um dos reconhecimentos mais saborosos chegou em 2008, quando a revista Wine Spectator, referência internacional do sector, considerou o Quinta do Crasto Reserva Vinhas Velhas 2005, proveniente de vinhas com 70 anos, o terceiro melhor vinho do mundo nesse ano, atribuindo-lhe uma classificação de 95 em cem pontos. 
«Estes prémios e distinções são sempre bons, porque significam um reconhecimento internacional da qualidade dos nossos vinhos. No entanto, o que tem um significado ainda maior é o facto de os vinhos quase não se encontram no mercado quando estes prémios são atribuídos. É sinal de que os consumidores gostam realmente deles e não por causa de um determinado prémio. Já os compram, por assim dizer, de olhos fechados porque confiam na marca», afirma Tomás Roquette, responsável pela área de produção da Quinta do Crasto.
A convicção é confirmada pelos números. Se em 1994 a marca vendia pouco mais de sessenta mil garrafas, hoje ronda o milhão de unidades, setenta por cento das quais comercializadas no mercado exterior. Uma vocação que começou num desafio. «Quando começámos a produção tivemos um problema com o registo da marca em Portugal. Por isso, entre 1994 e 2000, tudo o que engarrafámos foi para exportar. Isso teve a vantagem de nos obrigar a ser mais competitivos, a começar pelo mais difícil, porque naquela época os vinhos de mesa portugueses eram ainda pouco conhecidos», explica Roquette.
Superado o desafio do reconhecimento dos seus tintos de mesa, a Quinta do Crasto tem investido na aquisição ou aluguer de mais hectares de vinha para poder crescer de forma sustentada. Sete milhões de euros investidos ao longo dos últimos anos permitiram que a empresa passasse a controlar mais de 250 hectares de vinhedo, setenta dos quais na propriedade que dá o nome à empresa. «Percebermos que para crescermos e mantermos a qualidade temos de controlar a matéria-prima. Queremos continuar a crescer, produzindo mais mas mantendo a qualidade e, se possível, ainda a melhorar um pouco. Aliás, parece que quanto mais vinho fazemos melhores nos tornamos. Os melhores reconhecimentos que tivemos foram os mais recentes», sentencia Roquette.
Os Pato da Bairrada
É num recanto bucólico em Amoreira da Gândara, no concelho de Anadia, que se produzem, há mais de três décadas, alguns dos melhores vinhos nacionais. Na zona bairradina, mas também por todo o país e até no estrangeiro, o apelido Pato é há muito sinónimo de excelência. O grande responsável é Luís Pato, verdadeiro alquimista do vinho, domesticador da tradicional casta Baga e criador de vinhos de qualidade que fundem tradição e modernidade.
Apesar de a casa - resultado da associação de duas famílias tradicionais da Bairrada, os  Pato e os Melo Campos - produzir vinho na Quinta do Ribeirinho desde, pelo menos, o século xviii, foi só em 1970 que João Pato, incentivado pelo filho Luís, começou a engarrafar o néctar que ali se produzia, tornando-se o primeiro produtor-engarrafador da região da Bairrada depois da demarcação desta.
A entrada de Luís Pato no mundo dos vinhos só aconteceria uma década mais tarde. Contra a vontade do pai, optou pela Engenharia Química e não pela Agronomia na hora de escolher os estudos superiores - «ele temia que um engenheiro químico fosse fazer vinho sem uvas», recorda com um sorriso aberto e franco -, esteve na Marinha em tempo de guerra colonial, trabalhou numa cerâmica e foi até professor, mas não resistiu ao chamamento de Baco.
O caminho do sucesso começou a ser traçado quando, em 1980, mandou uma amostra de vinho produzido nas vinhas da sogra para uma prova internacional em Londres e venceu o concurso. Desde então - em especial, a partir de 1984, quando assumiu as vinhas do pai - habituou os consumidores e a crítica a vinhos de qualidade excepcional, que, em sessenta por cento dos casos, têm como destino o estrangeiro. O sucesso deve-se também a uma estratégia de marketing «inteligente e corajosa», como admite o próprio e reconhece a crítica. Uma das últimas criações do produtor - que  produz hoje cerca de 350 mil garrafas por ano, com destaque para os vinhos espumantes e tintos - é o Abafado Molecular (AM), o primeiro vinho molecular do mundo. Produzido através do método da crioextracção, o AM é um vinho doce, com uma baixa graduação alcoólica, concebido para ser um aperitivo ou um bom acompanhante de sobremesas de fruta e doces com pouco açúcar.
A poucos metros do refúgio do pai, na adega mais antiga da família, Filipa Pato está apostada em seguir o próprio caminho. Aos 35 anos, esta talentosa representante da nova geração de enólogos portugueses é já uma referência incontornável no panorama vínico nacional. Como o pai, seguiu Engenharia Química por não saber «o que mais estudar» e, por sugestão deste, acabou por ir estagiar em Bordéus. Na altura, a Enologia não estava nos seus planos, mas bastou participar numa vindima para se render aos encantos de Baco. Antes de se lançar na criação de vinhos próprios, em 2001, ainda passou pela Argentina e, mais tarde, pela Austrália, levada pela curiosidade de conhecer os novos mundos do vinho. Às primeiras criações chamou-lhes, muito apropriadamente, «Ensaios».
Hoje divide-se entre Portugal e a produção de «vinhos autênticos, sem maquilhagem», e a Bélgica, terra natal do marido. De Antuérpia, gere a expansão internacional dos seus vinhos, que, em oitenta por cento dos casos, tem como destino o exterior, em especial restaurantes, incluindo vários galardoados com estrelas Michelin. Apesar da pesada herança do apelido, o sucesso tem sido feito fora da sombra do pai. «Tenho evitado que ela seja olhada como a filha do Luís Pato. Eu sigo o meu caminho e ela segue o dela. E acho que o tem conseguido bem», remata o produtor.
Soares Franco, os senhores da José Maria da Fonseca
Por toda a Europa sobram já poucas casas familiares históricas que resistiram ao assédio dos grandes grupos económicos. Uma das honrosas excepções é a José Maria da Fonseca, com sede em Azeitão, a mais antiga casa vinícola familiar portuguesa. Fundada em 1834, e inicialmente dedicada sobretudo à produção de Moscatel de Setúbal, a empresa está hoje nas mãos da sexta geração da família Soares Franco, herdeiros de um jovem de Nelas, na região do Dão, que se formou em Matemática em Coimbra mas acabou por se dedicar ao negócio do vinho depois de o pai ter comprado umas terras a sul do Tejo, em Vila Nogueira de Azeitão.
Homem empreendedor e inovador para a época, José Maria da Fonseca foi pioneiro na viticultura portuguesa. Foi com ele, por exemplo, que se introduziu o arado para substituir o trabalho braçal. A ele se deve também a criação de um maior espaço entre as cepas - para garantir uma maior exposição aos raios solares -, a introdução de novas castas na região de Setúbal, como o Castelão Francês (base do famoso Periquita), e melhorias várias na produção de Moscatel.
Contudo, o seu maior legado foi talvez a nível empresarial. Foi ele o primeiro empresário do sector a apostar na exportação de vinhos em garrafa - chamava-lhe «a maneira civilizada de apresentar os objectos» - e no marketing no negócio do vinho, criando marcas específicas e introduzindo rótulos nas garrafas com os nomes dos vinhos (Moscatel de Setúbal, Periquita, etc.) e a identificação da empresa.
«Foi um homem com um impacte muito significativo no sector. Era extremamente dinâmico e construiu uma vasta rede comercial por todo o mundo, o que nos permitiu ter exportações de vinho para São Francisco, Rio de Janeiro, Singapura, Hong Kong e São Petersburgo ainda no século xix, o que é verdadeiramente notável», explica António Soares Franco, que preside ao conselho de administração da JMF. Formado em Economia, António, de 57 anos, assumiu a presidência da empresa em 1986, com o irmão Domingos, diplomado em Enologia na Universidade de Davis, na Califórnia, a comandar a equipa de enólogos da JMF
São eles os dois maiores accionistas da empresa, onde trabalham já dois elementos da sétima geração da família: António Maria e Sofia Soares Franco. Filhos do presidente da JMF, fizeram o seu caminho profissional fora da empresa antes de integrarem os quadros desta. António Maria, actual director de marketing e apontado como sucessor do pai, realizou um MBA nos EUA e trabalhou na Procter & Gamble, a maior multinacional de produtos de grande consumo do mundo, antes de preencher a vaga aberta na direcção de marketing da empresa. «Abriu-se uma oportunidade e ele assentava que nem uma luva no cargo», explica o pai. Sofia esteve no Ministério dos Negócios Estrangeiros e na NATO antes de o pai pensar nela para assumir a unidade de enoturismo JMF. Soares Franco nega, contudo, quaisquer favoritismos. «Aqui não há lugar garantido para ninguém. Qualquer familiar que entre tem de ser uma mais-valia para a empresa.»
Hoje, quase dois séculos volvidos desde a sua fundação, a casa de Azeitão é o maior viticultor português - controla um total de 850 hectares de vinha, entre vinhas próprias e outras arrendadas - e é um dos maiores produtores nacional de vinhos de mesa. Além do Periquita [ver caixa], ex-líbris da casa desde 1850, produz várias marcas de reconhecida qualidade, como o Lancers - criado nos anos 1940 e fundamental para a conquista do mercado americano -, o Moscatel de Setúbal (é o mais antigo produtor deste vinho generoso), BSE, Quinta de Camarate, Pasmados e José de Sousa, entre outras. Ao todo, três quartos da exportação têm como destino o estrangeiro, com os mercados da Suécia, EUA, Brasil, Itália e Canadá à cabeça. Em 2009, a empresa teve um volume de negócios de vinte milhões de euros.
Família Guedes (Quinta da Aveleda)
Casal Garcia
O vinho da alegria

A história do mais famoso vinho verde nacional começou num feliz acaso. Num certo dia de 1938 Roberto Guedes passeava pela Quinta da Aveleda quando avistou um senhor de fato branco e chapéu de palha que o protegia do calor de fim de Verão. Era Eugène Hélisse, um enólogo francês que, ao regressar de comboio das vindimas do Douro, se deixara seduzir pelas vinhas da Aveleda. «Chegou ao pé do meu avô, apresentou-se e ofereceu os seus serviços. Foram almoçar e, no final do almoço, estava contratado para fazer uma experiência com sessenta pipas de vinho», conta António Guedes, o actual presidente da Aveleda.
Quando, meses mais tarde, Hélisse retirou uma amostra de um pipo de madeira e a colocou numa velha garrafa de vidro, todos ficaram surpreendidos com aquele vinho transparente de rara frescura. O sucesso foi tal que, meses mais tarde, em 1939, Guedes decidiu produzir e engarrafá-lo com uma marca que herdou o nome de uma das vinhas da Aveleda: a de Casal Garcia. Nos anos 1960, a marca estava já entre as mais exportadas de Portugal, afirmando-se em mercados importantes como o Reino Unido, o Brasil ou a Itália. Hoje, está presente em mais de sessenta países nos quatro cantos do mundo, representando 67 por cento das exportações da empresa (dez milhões num total de 15 milhões de vendas ao exterior). «É a nossa grande marca global», explica Martim Guedes, director de marketing e um dos administradores da Aveleda.
Nome: Casal Garcia
Produtor: Quinta da Aveleda
Ano de criação: 1939
Total de mercados: sessenta
Principais mercados: Portugal, Espanha e Reino Unido
Vendas em 2009 (em garrafas): mais de vinte milhões de garrafas

Família Guedes (Sogrape)
Mateus Rosé
O embaixador de Portugal no mundo
É, há quase sete décadas (foi lançado em 1942), sinónimo de Portugal no mundo. Conta-se que era o vinho favorito de Saddam Hussein, mas já antes tinha conquistado os militares americanos durante a guerra do Vietname e no período da Guerra Fria, mas também os civis, em tempos de paz. O apreço era tal que levava a medidas drásticas para não perder o afamado rosé da célebre garrafa bojuda, inspirada nos cantis dos combatentes da Primeira Guerra Mundial. Quando a Revolução de Abril levantou o fantasma das nacionalizações e do fim da marca, do outro lado do Atlântico chegou uma encomenda  recorde: vinte milhões de caixas.
Segundo Gaspar Martins Pereira, autor de Sogrape - Uma História de Vida, o vinho terá sido sonhado por Fernando van Zeller Guedes, conhecido pelo mundo fora como Mr. Rosé, durante as noites de insónia «em pensões manhosas» do Douro, quando «mosquitos, percevejos e calor» o obrigavam a abandonar o conforto da cama. Desde o seu lançamento, em plena Segunda Guerra Mundial, o Mateus Rosé já terá vendido mais de 1,1 milhões de garrafas em todo o mundo, conquistado apreciadores famosos como Fidel Castro ou a rainha Isabel II, e sido promovido por figuras como Amália Rodrigues, Elton John ou Jimi Hendrix.
Apesar de estar hoje longe da época de ouro vivida nos anos 1970, em que chegou a ser o vinho mais vendido do mundo, o Mateus Rosé é ainda um caso de incomparável sucesso: está presente em mais de 120 países, tendo sido vendidas no ano passado mais de vinte milhões de garrafas, que representam um quarto de todo o volume de vendas da Sogrape.
Decidida a conquistar novos consumidores pelo planeta, a empresa juntou nos últimos anos mais quatro Mateus ao rosé original: Tempranillo, Aragonês, Shiraz e, recentemente, o Sparkling, para responder à apetência do mercado por espumantes rosé.
Nome: Mateus Rosé
Produtor: Sogrape
Ano de criação: 1942
Total de mercados: Mais de 120
Principais mercados: Reino Unido, Espanha e Portugal
Vendas em 2009 (em garrafas): Mais de vinte milhões
Quinta do Crasto
Quinta do Crasto Reserva Vinhas Velhas
A elegância e o carácter do Douro

É um sucesso incontestável desde que foi lançado, em 1994, tendo-se convertido em poucos anos num dos melhores e mais prestigiados vinhos portugueses. Eleito em 2008 o terceiro melhor vinho do ano (entre quase vinte mil ensaiados) pela prestigiada revista Wine Spectator, considerada a bíblia do vinho, funde elegância com o carácter forte do Douro. Como o nome sugere, é feito com uvas de vinhas velhas - em média, com cerca de 70 anos - de mais de trinta castas diferentes, plantadas à moda antiga, com as cepas misturadas. Todas as uvas são apanhadas à mão e, antes de irem para as cubas de inox, são pisadas durante quatro horas. Depois repousam entre 16 e 18 meses em barricas de carvalho francês (principalmente) e americano.
O resultado é um tinto soberbo que tem comprovado ao longo dos anos e sua consistência, superando o difícil desafio de produzir quase cem mil garrafas de um vinho de enorme qualidade a um preço acessível. Uma condição que tem contribuído para o sucesso junto dos consumidores. «É um vinho de topo, mas que tem um preço muito competitivo para a sua qualidade, entre os 25 e os 27 euros», sintetiza Tomás Roquette, responsável pela produção da Quinta do Crasto. 

Nome: Quinta do Crasto Reserva Vinhas Velhas
Produtor: Quinta do Crasto
Ano de criação: 1994
Total de mercados: cerca de trinta
Principais mercados: Portugal, Inglaterra, EUA, Canadá e Brasil
Vendas em 2009 (em garrafas): cerca de cem mil

Espumante Maria Gomes
Frescura bairradina

Produzido com uvas provenientes de vinhas com mais de 35 anos, este refrescante vinho branco espumante, de aroma floral e frutado, é o maior sucesso comercial saído da adega de Luís Pato, em Amoreira da Gândara, no concelho da Anadia. O produtor bairradino, que, desde 2006, apenas tem nas suas vinhas castas portuguesas, fundiu neste vinho uma casta típica da região, a Maria Gomes (também conhecida por Fernão-Pires), que lhe dá o carácter aromático, com uma pequena porção de uvas Arinto.
As duas castas são fermentadas separadamente em cubas de inox com controlo de temperatura, durante duas semanas, seguindo-se uma segunda fermentação em garrafa, de forma a conservar o aroma floral e frutado da casta principal. O resultado é um vinho elegante e equilibrado, boa companhia para pratos de peixe e marisco, mas que também pode ser usado como aperitivo. Era, até ao final do ano passado, o espumante exclusivo da classe executiva da TAP.

Nome: Espumante Maria Gomes
Produtor: Luís Pato
Ano de criação: n/d
Total de mercados: 15
Principais mercados: Portugal, EUA, Japão e Reino Unido.
Vendas em 2009: 75 000
Família Soares Franco
Periquita
O mais antigo vinho de mesa português tem 160 anos

O decano dos vinhos de mesa nacionais tem origem numa propriedade conhecida como Cova da Periquita, na aldeia de São Pedro, em Coina-a-Velha, Azeitão. Foi aí que, em 1946, José Maria da Fonseca desenvolveu a casta Castelão, que havia trazido do Alentejo. Quando, quatro anos mais tarde, o fundador da JMF juntou uvas desta casta a pequenas quantidades das castas Aragonês e Trincadeira - outra casta tradicional da península de Setúbal - este vinho de corpo e cores fortes, preparado para resistir a longas viagens, rapidamente se tornou um fenómeno de popularidade aquém e além-fronteiras. O vinho foi o primeiro a ser engarrafado e rotulado na origem, uma prática que José Maria da Fonseca considerava evitar adulterações e, ao mesmo tempo, promover a imagem dos produtos da casa.
O Periquita está hoje presente em todo o mundo, da Europa (com forte presença na Escandinávia) ao Brasil (onde é um dos vinhos mais vendidos), passando pelos mercados americano e asiático. Mas o principal mercado internacional é a Suécia, onde o vinho português é presença assídua em jantares de gala da família real. Actualmente, 85 por cento da produção do vinho - num total de 4,5 milhões de garrafas por ano - tem como destino o estrangeiro.
Nome: Periquita
Produtor: José Maria da Fonseca
Ano de criação: 1850
Total de mercados: mais de quarenta
Principais mercados: Portugal, Suécia, Brasil, Noruega, Dinamarca e EUA.
Vendas em 2009 (em garrafas): 4,5 milhões

Nenhum comentário:

Postar um comentário