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terça-feira, 5 de outubro de 2010

VINHO IN NATURA

A onda de vinhos naturais está intrigando muita gente. Afinal todo vinho, por definição, já não é um produto natural, "a bebida resultante da fermentação de uvas maduras, sem que nada seja acrescentado"?  Pois esse conceito deixou de ser absoluto. Fica difícil, hoje, produzir vinhos em larga escala, a bom preço, na base do artesanato puro. A irrigação, os herbicidas ou a adição de corretores ao mosto para equilibrá-lo são práticas comuns, e tem sua virtude. Graças a elas, democratizou-se o consumo. Alguns produtores, entretanto, decidiram remar contra a correnteza, retomando formas de produção onde apenas os agentes naturais têm vez. Iniciado na ultima década, o movimento se consolidou não só por sintonizar com a busca de uma vida saudável, tendência da época, mas porque os vinhos são de fato melhores. E já não há apenas um único estilo de tintos e brancos naturébas. O ecoenófilo pode escolher entre orgânicosbiodinâmicos ou naturais.
Os orgânicos se distinguem pelo modo de conduzir a plantação. Adubação só a natural, de preferência com matéria vegetal. Proíbe-se a queima dos resíduos do cultivo. As enfermidades do vinhedo devem ser tratadas com sulfato de cobre, como se fazia nos tempos medievais. Na cantina, a elaboração é similar a do vinho comum. A fermentação, porém, deve ser feita apenas com leveduras autóctones, aquelas já presentes nas cascas da uva e no ambiente da adega. É permitido o acréscimo de anidrido sulforoso, um antioxidante e estabilizante que todos os vinhos utilizam. De qualquer modo, os orgânicos empregam 50% a menos de anidrido do que os demais. Detalhe final: limpeza da adega sem detergentes, apenas jatos de água quente com bastante pressão.
Os biodinâmicos seguem o mesmo andor, mas com viés "esotérico". Por exemplo: respeitam o calendário lunar no plantio e colheita e costumam borrifar as parreiras com porções à base de ervas, pelos de rabo de cavalo e raspas de chifre de boi. Aceitam, também, a adição de anidrido sulforoso aos caldos. Já os naturais são tidos como os xiitas, pelos seus métodos radicais. No vinhedo, adotam os mesmos preceitos, a diferença ficando por conta da forma de vinificação, onde nada pode ser acrescentado. Os produtores orgânicos, biodinâmicos e naturais tem muito em comum. Todos consideram o vinhedo um organismo vivo. A preocupação é prevenir os males que afetam a parreira, ao invés de usar compostos sintéticos para curá-los. Suas fórmulas se assemelham às da homeopatia.
No Brasil, o enólogo Juan Carrau é o único que produz vinhos certificados como orgânicos, em sua propriedade de Santana do Livramento, na fronteira com o Uruguai. São varietais de Cabernet Sauvignon, Semillon e Gewürztraminer. Não é fácil encontrá-los, mas o site da empresa (www.velhomuseu.com.br) traz informações. Entre as importadoras, a World Wine, de São Paulo, é bastante focada no tema. Em seu catálogo figuram craques como Michel Lapierre, do Beaujolais, Philippe Pacalet, da Borgonha, e Claude Courtois, do Vale do Loire. Ainda da França, um dos sacerdotes da área, o estupendo produtor Marcel Deiss (Alsácia), importado pela Mistral. Na América do Sul, destacam-se os orgânicos das vinícolas Família Zuccardi (Argentina), De Martino e Carmem (Chile), e Pisano (Uruguai).

 Enodicas
+ Está descartada a associação entre a loja de vinhos Lavínia, de Paris, e o restaurante Madero, de Curitiba. Júnior Durski, proprietário do restaurante, pretendia assumir a franquia da empresa francesa no Brasil, instalando em São Paulo uma loja que abrigaria, além do vasto catálogo da Lavínia, as carnes e hambúrgueres do Madero. Durski afirma que desistiu ao tomar conhecimento das exigências feitas no Brasil para a importação, especialmente a que manda entregar ao Ministério da Agricultura, para análise, duas garrafas dos diferentes vinhos e safras embarcados.
+ A La Vinotheque, do enólogo Alcioni Dümes, realiza, em outubro e novembro, o curso de iniciação ao mundo do vinho, sempre aos fins de semana e com turmas nos horários vespertino e noturno. O programa, além de conhecimentos gerais, abrange práticas da degustação da bebida. Informações pelo telefone (41) 3077.1020.
+ A 18ª Avaliação Nacional de Vinhos, da safra 2010, realizada na última semana em Bento Gonçalves, teve a participação de cerca de 750 enófilos de nove estados brasileiros e doze países. Chamou atenção o estágio de diversidade conquistado pela produção nacional. Metade das amostras mais representativas não era de vinícolas da Serra Gaúcha, mas de outras regiões, como Santa Catarina, Minas Gerais, Pernambuco e da própria campanha riograndense, na fronteira com o Uruguai.

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