
A origem desse vinho de sobremesa é a altitude da serra catarinense. Na madrugada do dia 4 de junho de 2009, sob um frio de -7,5°C, 3,4 mil quilos de cabernet sauvignon foram colhidos e transportados em caminhão frigorífico até Nova Pádua, onde foram prensados - processo que tive o prazer de testemunhar. Na forma de gelo, a maior parte da água permaneceu no interior das bagas, ocorrendo a extração apenas do açúcar. Após a fermentação, o estágio de 12 meses em barricas de carvalho francês deu o acabamento necessário.
O resultado é uma bebida de perfil licoroso, denso, de uma cor rubi acobreada. No nariz, destacam-se os aromas de rosa, frutas vermelhas e figo seco. A passagem por madeira acrescentou um tom de baunilha e escondeu notas típicas da cabernet sauvignon, como o pimentão verde, criando uma mistura intrigante. Após o primeiro gole, o degustador permanecerá com essas impressões por bastante tempo na boca, pois é uma bebida de ótima presença e permanência. Traz uma certa salinidade, herança do solo rico em potássio da altitude catarinense, mas o que se sobressai é a acidez marcada, necessária para não deixar o sabor doce tornar-se enjoativo.
“Não quero bancar o poeta, mas convido o consumidor não a beber esse vinho, mas a acariciá-lo na boca”, teoriza o sommelier italiano Roberto Rabachino, o primeiro a sugerir que as temperaturas negativas de São Joaquim poderiam dar origem a um icewine verde-amarelo.
O projeto, encampado pelo dono da Pericó, Wandér Weege, e pelo enólogo Jéfferson Sancineto Nunes, rendeu 3.363 garrafas de 200ml, que chegam oficialmente ao mercado neste domingo (dia 10/10/2010) por R$ 189 cada. Frente à grande curiosidade que o produto vai gerar, são pouquíssimas garrafas. E uma próxima safra é tão incerta quanto a incidência de neve, ou melhor, gelo nas videiras brasileiras.
Nenhum comentário:
Postar um comentário