"Produzir vinho é relativamente simples, só os primeiros duzentos anos são difíceis", declarou a baronesa Philippine de Rothschild, sucessora do pai no comando do célebre "Château Mouton Rothschild".
Essa frase traduz o conceito dos europeus para o seu vinho. O vinho embute uma história e aguça a curiosidade do apreciador. Essa curiosidade induz o apreciador a aprofundar-se na cultura da bebida e a reconhecer a importância da diversidade. A diversidade é a razão do vinho ser tão fascinante, observa Hugh Johnson, o qual esclareceu: "A razão de o vinho ser tão fascinante é porque existem tantos tipos diferentes e cada um é distinto do outro."
Os vinhos do Novo Mundo, originários principalmente da Austrália, Estados Unidos, Argentina, Chile e África do Sul, adotam uma estratégia calcada em vinhos fáceis de serem bebidos, corretos, sem defeitos, mas também sem qualidades, analisa Jorge Lucki. Essa estratégia, explica Lucki, "leva necessariamente a uma padronização, a qual é a antítese de tudo que o vinho prega e oferece". Conclui Lucki: "São todos iguais, elaborados com a mesma variedade de uva, maquiados com carvalho (não são usadas as caras barricas, mas lascas de madeira para dar o gosto) e tendo a natural falta de acidez corrigida pela adição de ácido tartárico. A rigor é um retrocesso."
Os vinhos do Novo Mundo, para descomplicar, indicam no rótulo das garrafas o tipo de uva. Os vinhos do Velho Mundo destacam a região, e o apreciador se obriga à memorização de muitos nomes.
Os vinhos do Novo Mundo adotam técnicas a fim de permitir o consumo imediato das garrafas.
Os produtores no Velho Mundo, sujeitos às normas de uma Região Demarcada, estão desconcentrados (só Bordeaux tem perto de 15 mil produtores), enquanto os produtores no Novo Mundo, geralmente livres de normas, estão concentrados (no Chile, os cinco maiores dominam quase 90% da produção; na Austrália, quatro produtores respondem por 80% do mercado). A concentração facilita a comercialização e possibilita mais verbas para a promoção e o "marketing".
"O grande charme do vinho é a sua variedade e a fidelidade as suas origens", avalia Jancis Robinson, "Master of Wine (MW)", título concedido aos aprovados nos exames teóricos e práticos sobre a bebida, jornalista do "Financial Times".
"O vinho é certamente diferente dos outros produtos, já que pode evoluir, muitas vezes imprevisivelmente, durante décadas, apresentar-se em tantas variedades e estilos, e expressar de uma maneira única de onde vem", continua Jancis.
Ela analisa: "Atualmente, é raro se encontrar produtos com falhas técnicas, mas há menos variedade. Os vinicultores ao redor do mundo tendem a ter mais ou menos o mesmo estilo em mente, o que é simplesmente uma vergonha. Alguns dos mais sérios produtores de Bordeaux estão voltando para um padrão mais próximo de algo genuinamente bordalês." Sobre o melhor vinho tomado, Jancis aponta: Château Cheval Blanc 1947.
A França e a Itália produzem mais da metade do vinho do mundo, mas, observa Hugh Johnson, inglês, "a Itália sempre tem novidades, sempre está-se mexendo, causando agitação", e "na França as coisas mudam, mas muitas vezes é uma questão de acento, de uma evolução gradual e de pequenos pormenores".
Os vinhos do Novo Mundo, continua Johnson, "apelam mais a alguns paladares do que os vinhos do Velho Mundo, porque os vinhos de países mais quentes são mais maduros, mais doces e têm um teor alcoólico mais alto". Prossegue: "Assim, os vinhos da Argentina, Chile, Austrália e Califórnia convencem mais pela 'personalidade' forte e facilmente reconhecível. Mas os vinhos europeus são, talvez, mais sutis." Johnson acha "um absurdo os vinicultores franceses terem começado a aumentar a 'potência' dos seus vinhos só para ganhar a aprovação de alguns críticos poderosos americanos".
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