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terça-feira, 26 de outubro de 2010

PATAGÔNIA,VINHOS LITERALMENTE DO FIM DO MUNDO

POST BY QVINHO

Belas montanhas, lagos, bosques e, é claro, neve são as tipicas imagens  associadas à Patagônia. E não é pra menos, já que badaladas localidades como San Carlos de Bariloche e Villa La Angostura estão localizadas, respectivamente, nas províncias adjacentes de Río Negro e Neuquén. Agora, o que pouca gente sabe é que essas mesmas províncias também reservam boas surpresas para os amantes do vinho. Está certo que o cenário é outro, já que o polo de vitivinícola na Patagônia está localizado cerca de 450km a nordeste de Bariloche, mais precisamente no paralelo 39, numa altitude média de 350 metros, onde os vinhedos encontram condições ideais para uma maturação prolongada das uvas, uma vez que os invernos são frios e os verões quentes e secos. Sem falar na grande amplitude térmica, que pode chegar a 20ºC de diferença entre o dia e a noite. A Malbec, na Patagônia, produz vinhos escuros, com muita riqueza de cor, e um perfil aromático diferente dos primos de Mendoza.
                                
Na viagem que fiz em junho para a Argentina pude visitar pela primeira vez essa região e conhecer as bodegas que estão dando um novo impulso a produção vitivinícola da Patagônia. Ao contrario da paisagem de cartão postal de Mendoza, onde a cordilheira dos Andes é uma moldura natural dos vinhedos, na Patagônia encontramos uma paisagem única, muito árida, que lembra um deserto. Obviamente, o sol é uma marca registrada da região, são mais de 300 dias ensolarados no ano. Durante a nossa viagem, infelizmente, ele não deu as caras; pegamos dias cinzentos com momentos de leve garoa e temperaturas que beiravam 3ºC.
Os vinhedos ocupam uma área de planície de 4.417 Ha que acompanha o leito do rio, num vale estreito e longo cercado por “Bardas”, como são chamados os platôs. Nessa região de clima continental seco onde as chuvas são muito escassas e totalizam cerca de 178mm anuais, a produção vitivinícola só é viável devido a irrigação. E, é graças a preciosa água dos rios Neuquén e Limay, que formam o Río Negro – e dos inúmeros canais que começaram a ser construídos no início de do século XX – que a região de clima desértico se transformou num oásis para o vinho e a fruticultura (veja a área verde na foto de satélite). O lado positivo desse clima extremamente seco, com ventos constantes e fortes, é que as videiras são praticamente livres de problemas fitossanitários, o que torna boa parte dos vinhos orgânicos por natureza.
                                     
A província de Neuquén (de nehuenken que na língua mapuche significa “rio ventoso”) teve suas primeiras videiras plantadas muito recentemente, a ideia inicial do governo provincial foi de incentivar com subsídios a fruticultura – uma vez que a região é muito dependente da exploração de petróleo e possui pouquíssima receita de outras atividades – porém o que se viu foi o nascimento de um novo polo vitivinícola da Argentina. A partir do ano 2000, novos empreendimentos se estabeleceram na região, seguindo os passos da Bodega Del Fin Del Mundo vieram NQNFamília SchroederValle Perdido e Universo Austral.
Ao contrário de Neuquén, Río Negro tem uma longa história relacionada ao vinho e a fruticultura. Pioneiros como Humberto Canale, no final do século XIX, atuaram de forma ativa na colonização de localidades como General Roca, e já em 1915 começou a importar e plantar as primeiras cepas francesas. A região que já chegou a ter 400 vinícolas e 18 mil Ha, hoje representa 2% da produção de vinhos da Argentina, sendo que uma grande parcela desse volume é destinada ao consumo local (garrafões de 5 litros). Porém, o cenário está mudando, bodegas boutique como NoemiaChacra eDel Rio Elorza, e marcas tradicionais como a Humberto Canale, são responsáveis pela renovação dos vinhos de Río Negro. Outra forte geradora de divisas para a região é a fruticultura, principalmente maçãs e peras destinadas à exportação in natura para sucos concentrados. A Expofrut, maior exportadora de maçãs da Argentina, está em Río Negro.

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