Bebida tem sido prescrita como remédio apesar da escassez de pesquisas nacionais
Remédio para o corpo e para alma. Assim o vinho tem sido apresentado por médicos e amantes da bebida que encontram saúde a cada novo gole. Muito já se propagou dos benefícios antioxidantes e regeneradores, mas o problema é a quase ausência de pesquisas nacionais que observem esses efeitos "milagrosos" na população brasileira, segundo a nutricionista Tatiana Uchôa, mestranda em Saúde Pública pela Universidade Estadual do Ceará (UECE).
"São escassos os estudos na América Latina, sobretudo no Brasil e especificamente no Nordeste, o que acaba por fazer com que generalizemos as descobertas internacionais para a nossa realidade", frisou a nutricionista apontando que estudos internacionais recentes enumeram novos poderes do vinho. Entre eles a possibilidade de redução do risco de câncer de próstata em até 60% e confirmação da prevenção - já relatada em anos anteriores - de doenças neurodegenerativas, Parkinson e Alzheimer.
Para a nutricionista, a constante divulgação de boas-novas tem levado centenas de pessoas à procura dos prazeres "baquianos" nas adegas e restaurantes de Fortaleza. A palavra da moda agora é o resveratrol, um composto fenólico encontrado na casca da uva.
"Estudos têm mostrado que a redução do risco de doenças cardíacas, promovida pela ingestão adequada do vinho tinto ou do suco de uva, é um efeito gerado principalmente pelo poder do resveratrol de inibir ou minimizar a ação dos radicais livres que são conhecidos por levar ao envelhecimento precoce, entre outras complicações", frisou. As fontes mais abundantes de resveratrol são as uvas Vitis vinifera, V. labrusca, V. muscadine, as espécies mais empregadas na fabricação dos vinhos.
Tanto o vinho tinto quanto o suco de uva tem apresentado efeito inibidor na produção de endotelina, promovendo proteção para doenças, enquanto o vinho branco e o rose não registraram efeito sobre esta substância.
"O consumo moderado tem sido eficaz na prevenção de doenças cardíacas, aterosclerose e na melhora da circulação sanguínea por dificultar a formação de placas de gordura, reduzindo a concentração de "colesterol ruim" e aumentando a de "colesterol bom". Como os vasos distribuem sangue por todo o organismo, é possível perceber os bons efeitos por vários órgãos do corpo, principalmente no coração", explicou a nutricionista.
Sem exageros
Apesar dessas maravilhas, Tatiana Uchôa pede cautela na "alta dosagem" desse tinto remédio. Embora haja benefícios do vinho à saúde já comprovados, não se pode esquecer que se trata de uma bebida alcoólica. Por conta disso, ela recomenda a ingestão moderada a fim de evitar danos ao organismo, podendo ocasionar, de forma imediata, letargia e déficit de atenção.
"O consumo exagerado e de forma contínua de bebidas alcoólicas pode gerar dependência, além de causar outros problemas sérios à saúde, como hipertensão arterial sistêmica, deficiências nutricionais, cirrose hepática, pancreatites, insuficiência respiratória, patologias cardíacas e neurológicas e piorar doenças já existentes", alertou.
Para a nutricionista, a moderação é indispensável, assim como também é fundamental o consumo orientado por médico e nutricionista. Caso a ingestão do vinho não respeite a dose recomendada pelos especialistas, que é de duas taças por dia (250ml até 300ml) os benefícios mencionados podem não serão obtidos com sucesso.
Ela sugere ainda a ingestão no almoço e jantar, combinando os efeitos do vinho ou do suco de uva aos demais alimentos da refeição. A opção do vinho tinto ao suco de uva, também requer cuidados gerais com a alimentação, lembrando de evitar acompanhamentos calóricos durante o consumo (como queijos e doces) e de ter alimentação adequada.
Felicidade
Para o historiador e professor universitário Régis Lopes, 40, além do prazer dos sentidos, o vinho lhe traz conforto e bem-estar, principalmente após as refeições. "Sinto que a bebida me ajuda na digestão dos alimentos, é uma sensação boa, uma paz corporal e espiritual", disse o historiador comentando que após um gole, tudo flui melhor, até suas "células ficam mais felizes".
Cada novo estudo divulgado aumenta o trabalho para a sommelier, Maria Ritardo, 32, consultora de vinhos de uma rede de supermercados em Fortaleza. Para ela, mais de 50% do público que lhe procura pedindo orientações e sugestões para uma boa degustação de vinho, já trazem informações e conhecem os poderes curativos da bebida.
"Começa a se fortalecer na capital essa cultura de tomar o vinho não só pelo prazer, mas também pela saúde. Não são só as pessoas mais velhas que nos procuram, jovens casais querendo cuidar do coração são quase maioria", explicou a consultora Ritardo.
Consumo
2 litros por ano é o consumo de vinho per capita no Brasil. Assim, o país ocupa uma das últimas posições no mundo. A produção é de 300 milhões de litros anuais.
IVNA GIRÃOREPÓRTER