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sexta-feira, 22 de outubro de 2010

DOSSIÊ TOSCANA




HISTÓRIA E ARTE
A Toscana, mais especificamente a atual cidade de Florença, foi o cenário principal, de uma dos mais importantes períodos da história da arte: o Renascimento Italiano, que vai até o século XVI e marca a transição entre a Idade Média e a Idade Moderna.
Nesta região viviam famílias muito ricas, que patrocinavam a produção artística local. Daí nasceram nomes como Leonardo da Vinci, Michelangelo, Rafael, Donatello e Botticelli, que deixaram sua marca artística na região, até hoje, em obras como a Capela Sistina, David, e a Cúpula de Duomo,


TOSCANA E SEUS VINHOS
Até a década de 50, as Fattorias (fazendas) italianas eram fechadas e em sua grande maioria de propriedade de famílias nobres. Nesta época quase não havia comércio: as plantações e a criação de animais eram para consumo próprio. O vinho era um alimento.

No final dos anos 50, houve uma grande modificação estrutural na composição agrária, e o vinho chianti passou a ser largamente comercializado pelos novos proprietários.

CHIANTI
Nesta época, o chianti, principal vinho da região da Toscana, era produzido a partir da vinificação de quatro uvas, as tintas Sangiovese (80%) e Canaiolo e as brancas Trebbiano e Malvasia. Consta que tal composição foi idealizada pelo Barone Bettino Ricasoli que, ciumento de sua bela esposa Anna, recolhia-se em exílio voluntário no Castelo de Brólio experimentando o melhor corte entre as uvas.

No afã de fazer dinheiro fácil, os produtores da época descuidaram-se muito rapidamente da qualidade e o chianti, um dos poucos italianos D.O.C.G.(Denominazione de Origine Controllata e Garantita) logo ficou desqualificado no mercado havendo grande queda de preço.

Por esta razão no início dos anos 70 as Tenute (propriedades) italianas novamente mudaram de mãos.
Na revitalização dos vinhos da Toscana, os produtores buscaram o resgate do prestígio do chianti. Buscaram as melhores técnicas de cultivo das uvas sangiovese e modificaram a composição do vinho.
Por lei, os Chianti devem ter pelo menos 80% de Sangiovese e podem receber até 10% de uvas tintas estrangeiras (as mais usadas são: Cabernet Sauvignon, Merlot ou Syrah), além de ser produzida em região demarcada. Essas medidas fizeram com que o chianti recuperasse qualidade e respeito entre os consumidores e críticos.

BRUNELLO DI MONTALCINO
Outro vinho de grande expressão na Toscana é o Brunello di Montalcino. O vinho começou sua história na década de 70 em propriedades que se localizavam ao redor da comuna de Montalcino, ao sul de Siena, a partir de uma variedade das uvas sangiovese, a sangiovese grosso, que na região é conhecida por brunello. Trata-se de um vinho bastante encorpado de teor alcólico alto (em torno de 14 graus). Um Brunello deve envelhecer pelo menos 2 anos em madeira e 4 meses na garrafa antes de distribuído, sempre depois do dia primeiro de janeiro do quinto ano depois da colheita. O vinho riserva, por sua vez, é distribuído após 6 anos, sendo 2 deles passados em barris de carvalho e seis meses em garrafa. A madeira utilizada pelos produtores tradicionais vem da Eslovênia, os produtores mais novos usam carvalho da França. Por conter tanto corpo e alto grau alcoólico, o tempo de guarda de um Brunello pode chegar até 100 anos!




OUTROS GRANDES VINHOS TOSCANOS
Com destaque não menos importante, na Toscana temos ainda o D.O.C.G. Vino Nobile di Montepuciano, da região de igual nome, o Rosso di Montalcino; além de ótimos spumanti e um vinho de sobremesa tão especialmente bom que foi chamado há quase um milênio de vin santo.


SUPERTOSCANO
A revolução enológica começou no final dos anos 60. Enquanto o mundo respirava a contra-cultura, a Toscana, berço do renascimento cultural e artístico do século XVI, contestava a ordem estabelecida na produção de vinhos. O Da Vinci do renascimento dos vinhos italianos foi o Marquês Piero Antinori.

O início da década de 1970 foi difícil para a região, com safras de qualidade inferior e problemas de superprodução. O Chianti estava em baixa, era preciso melhorar a qualidade dos vinhos e dissociar-se da imagem das garrafas revestidas de palha penduradas nos tetos das trattorias. Neste contexto, em 1970, Antinori decidiu plantar em uma de suas grandes propriedades, a Santa Cristina, bem no meio da região do Chianti Clássico, um vinhedo com Cabernet Sauvignon, além de outras experiências que fez com castas como Chardonnay, Sauvignon Blanc, Gewurztraminer, Cabernet Franc, Merlot e Pinot Noir. Em 1971, produziu pela primeira vez o Tignanelo. Acrescentou 15% de Cabernet Sauvignon e 5% de Cabernet Franc, sendo o restante da casta tradicional toscana Sangiovese. Por conta destas inovações, a denominação "Chianti" não pôde ser usada e o vinho foi então classificado com a mais baixa nomenclatura da enologia italiana: "vino da tavola".

O Tignanelo foi, então, o primeiro "supertoscano", expressão criada por ingleses e americanos para se referir aos vinhos desta região que, apesar de serem na época, pela lei italiana, apenas "vino da tavola", alcançavam alta qualidade e preço.

O primeiro reconhecimento veio em 1979, quando a importante revista inglesa Decanter elegeu o Sassicaia o melhor em um concurso de Cabernet Sauvignons de onze países. A partir deste evento, os vinhos italianos começaram a ser aclamados em todo o mundo, culminando com os recentes prêmios da revista americana Wine Spectator, uma das mais importantes publicações do gênero. Ela elegeu em 2000 o Solaia 1997, de Piero Antinori, o melhor vinho do mundo naquele ano. Em 2001, a dose se repetiu com o número 1 ocupado pelo Ornellaia 1998, da Tenuta dell'Ornellaia, pertencente a Lodovico Antinori, irmão de Piero.
Antinori é até hoje um dos principais produtores de vinhos da Toscana. Além do Tignanelo, ele produz, na mesma propriedade, o ainda mais premiado e espetacular Solaia. Neste, predomina a Cabernet Sauvignon, com 75%, complementada com 5% de Cabernet Franc e 20% de Sangiovese. Outro vinho, o Guado Al Tasso, produzido a partir da safra de 1990, é um corte de 60% Cabernet Sauvignon, 30% Merlot, 10% Syrah. Assim como ele, hoje há uma grande variedade de vinhos produzidos na Toscana que não levam Sangiovese em sua composição.


ROSSO DI MONTALCINO
Conhecido como o irmão mais novo do Brunello por usar vinhas mais jovens e envelhecer em barricas por um período bem menor (mínimo de um ano).
Este vinho tem como características ser mais frutado, leve e menos complexo em relação ao Brunello.

VINO NOBILE DE MONTEPULCIANO E ROSSO DE MONTEPULCIANO
Apesar do nome, a maioria dos Nobiles não é considerado como um vinho nobre. Seu nome se refere aos nobres poetas e papas que o bebiam regularmente, na região onde é produzido: Montepulciano.
Tanto o Rosso como o Vino Nobile são feitos com um clone da sangiovese chamada prugnolo. Apesar de usarem a mesma uva, alguns Rossos podem se mostrar melhor estruturados e expressivos. A maior diferença entre estes dois vinhos é idade dos vinhedos que os produzem.

Estes vinhos apresentam boa acidez, característica da Sangiovese, de meio corpo e com sabor de cereja. O carvalho está por lá, mas de certa forma encoberto pelo forte carácter tânico do vinho. Para quem gosta da vivacidade e frescor da Sangiovese, são uma ótima pedida.

Dizem os especialistas, que ainda há uma boa caminhada para que o Nobile se torne um grande vinho. Ambos, se de um bom produtor, poderão ser ótima companhia para uma iguaria bastante típica da região: Bisteca alla Fiorentina.


VIN SANTO
Mais do que uma das grandes expressões do vinho toscano, o Vin Santo é um símbolo de cordialidade, sendo costumeiramente servido às visitas. A maior parte da produção é caseira, ou seja, cada família tem sua própria produção. Geralmente o vinho é servido após o café com uma espécie de biscoito, chamado cantucci, que deve ser molhado no vinho.

Este fermentado generoso, cujo teor de açúcar residual pode fazê-lo variar de quase seco até doce, é produzido pelo processo de apassitamento - isto é, a partir de uvas-passas.

Depois de colhidos, os cachos de uva, em sua maioria Trebbiano e Malvasia, são pendurados em um depósito ventilado para desidratarem. Assim, a concentração de açúcares aumenta e o vinho, após a fermentação e a armazenagem por até quatro anos em pequenas barricas. Apresenta aromas de mel tostado, de frutas secas, além de uma bela cor alaranjada e um sabor característico.
O nome Vin Santo vem do seu uso: há séculos os padres o bebem durante a missa.

Existem alguns produtores da região que o produzem em escala comercial, porém, em método artesanal. Isso explica seu alto custo no mercado.

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