POR BRUNO AGOSTINI
Percebemos que um vinho é gigante quando o colocamos ao lado de um grande. E ele passa por cima.
Foi assim comigo, na semana passada, quando pude colocar frente a frente, taça a taça, o Barca Velha 1999 e o Reserva Especial 1997.
O segundo é um vinhaço, potente, elegante, complexo. Mas o primeiro... Já havia bebido o Barca Velha na mesma noite do Reserva Especial. Mas nunca havia posto os dois assim, tête-a-tête. Tá, o Reserva Especial é um vinho espetacular. Mas está longe de ser "quase um Barca Velha", como já escrevi aqui certa vez.
Foi até covardia. O vinho tinha uma exuberância aromática rara de se alcançar. Do lado do Barca Velha, o Reserva Especial parecia um vinho comum.
Esses dois vinhos são cercados de histórias. O Barca Velha é um clássico, pioneiro entre os vinhos tintos não fortificados no Douro, abrindo caminho para esta turma toda que surgiu nos últimos anos, fazendo ótimas coisas.
Craiado há mais de 40 anos, o Reserva Especial só é feito em anos ótimos: até hoje foram apenas 12 safras. Este 1997 teria imposto grande esforço aos enólogos para se decidirem se seria ou não declarado Barca Velha. Só depois de anos de garrafa dos melhores vinhos da Cassa Ferreirinha é escolhido o rótulo, se Reserva Especial ou se Barca Velha. Reza a lenda que eles reúnem a família para jantar. Se acabar o vinho, é Barca Velha. Se sobrar, é Reserva Especial. Verdade ou folclore, é natural que estes vinhos tenham afinidades de corpo, estrutura e, principalmente, aromas.
O Reserva Especial já era um velho conhecidos. Devo ter bebido em umas seis ocasiões diferentes nos dois últimos anos. Já o Barca Velha só havia passeada pela minha taça duas vezes na vida.
Abrimos os dois juntos, e colocamos no decanter. Uma garrafa de espumante depois, começamos com o Reserva Especial. É mesmo um vinhaço. Com delicada acidez, já mostra o sinal do tempo, com coloração evoluída, já indo para tons de telha e terra, com alaranjados. No nariz é balsâmico, com cítricos em profusão (geleia de laranja) e algo de charuto. Há bastante fruta por detrás dessas notas mais pesadas: ameixa em calda, amora e cereja já bem maduras. Os taninos são redondos, aveludados, tornando o vinho muito equilibrado e fácil de se beber em toda a sua complexidade, com final persistente. Delícia.
Mas aí derramamos o Barca Velha nas taças. Uma coisa. Vivo e concentrado, ainda mostra-se bastante escuro, numa coloração avermelhada intensa: nem parece que apenas dois anos separam estes dois vinhos. No nariz ponha todo o buquê do Reserva Especial (tabaco, balsâmico, cítricos, compotas e frutas maduras) e adicione mais coisas: a Touriga Nacional revela-se em sedutoras notas florais de violeta. Há flagrantes especiarias, com algo de pimenta e sugestões de baunilha vindas da madeira bem dosada. Também vi aromas iodados (em ambos, mas bem mais fartos no Barca Velha). Enchia a boca, apresentanda admirável estrutura, com taninos arredondados, acidez elevada e uma elegância sublime: um primor de equilíbrio.
Quando voltei ao Reserva Especial, ele estava apagado, xoxo, quase tristonho. Enquanto isso, o Barca Velha desfilava a sua exuberância. Que aroma, que boca, que cor.
Diante do Barca Velha o Reserva Especial ficou acanhado.
Como se diz por aí: foi um chocolate. O Barca Velha deu de goleada. Atropelou.
Foi assim comigo, na semana passada, quando pude colocar frente a frente, taça a taça, o Barca Velha 1999 e o Reserva Especial 1997.
O segundo é um vinhaço, potente, elegante, complexo. Mas o primeiro... Já havia bebido o Barca Velha na mesma noite do Reserva Especial. Mas nunca havia posto os dois assim, tête-a-tête. Tá, o Reserva Especial é um vinho espetacular. Mas está longe de ser "quase um Barca Velha", como já escrevi aqui certa vez.
Foi até covardia. O vinho tinha uma exuberância aromática rara de se alcançar. Do lado do Barca Velha, o Reserva Especial parecia um vinho comum.
Esses dois vinhos são cercados de histórias. O Barca Velha é um clássico, pioneiro entre os vinhos tintos não fortificados no Douro, abrindo caminho para esta turma toda que surgiu nos últimos anos, fazendo ótimas coisas.
Craiado há mais de 40 anos, o Reserva Especial só é feito em anos ótimos: até hoje foram apenas 12 safras. Este 1997 teria imposto grande esforço aos enólogos para se decidirem se seria ou não declarado Barca Velha. Só depois de anos de garrafa dos melhores vinhos da Cassa Ferreirinha é escolhido o rótulo, se Reserva Especial ou se Barca Velha. Reza a lenda que eles reúnem a família para jantar. Se acabar o vinho, é Barca Velha. Se sobrar, é Reserva Especial. Verdade ou folclore, é natural que estes vinhos tenham afinidades de corpo, estrutura e, principalmente, aromas.
O Reserva Especial já era um velho conhecidos. Devo ter bebido em umas seis ocasiões diferentes nos dois últimos anos. Já o Barca Velha só havia passeada pela minha taça duas vezes na vida.
Abrimos os dois juntos, e colocamos no decanter. Uma garrafa de espumante depois, começamos com o Reserva Especial. É mesmo um vinhaço. Com delicada acidez, já mostra o sinal do tempo, com coloração evoluída, já indo para tons de telha e terra, com alaranjados. No nariz é balsâmico, com cítricos em profusão (geleia de laranja) e algo de charuto. Há bastante fruta por detrás dessas notas mais pesadas: ameixa em calda, amora e cereja já bem maduras. Os taninos são redondos, aveludados, tornando o vinho muito equilibrado e fácil de se beber em toda a sua complexidade, com final persistente. Delícia.
Mas aí derramamos o Barca Velha nas taças. Uma coisa. Vivo e concentrado, ainda mostra-se bastante escuro, numa coloração avermelhada intensa: nem parece que apenas dois anos separam estes dois vinhos. No nariz ponha todo o buquê do Reserva Especial (tabaco, balsâmico, cítricos, compotas e frutas maduras) e adicione mais coisas: a Touriga Nacional revela-se em sedutoras notas florais de violeta. Há flagrantes especiarias, com algo de pimenta e sugestões de baunilha vindas da madeira bem dosada. Também vi aromas iodados (em ambos, mas bem mais fartos no Barca Velha). Enchia a boca, apresentanda admirável estrutura, com taninos arredondados, acidez elevada e uma elegância sublime: um primor de equilíbrio.
Quando voltei ao Reserva Especial, ele estava apagado, xoxo, quase tristonho. Enquanto isso, o Barca Velha desfilava a sua exuberância. Que aroma, que boca, que cor.
Diante do Barca Velha o Reserva Especial ficou acanhado.
Como se diz por aí: foi um chocolate. O Barca Velha deu de goleada. Atropelou.
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