A globalização que tudo unifica também chegou ao mundo do vinho. O uso de uma infinidade de produtos químicos sintéticos fez com que vinhos procedentes de diversos países e continentes tenham o mesmo aroma, cor e textura.
Para o enólogo e viticultor Francisco Cambronero, proprietário das adegas Vinos Cambronero S. L., quando alguém come uma fruta ecológica, se dá conta de que ela tem um sabor mais natural. "Se não utilizarmos agrotóxicos para cultivar uvas, obteremos frutas de melhor qualidade, que dará um vinho com sabores mais autênticos."
É o que Cambronero chamou "o sabor da terra", que se consegue manter com o uso de adubos naturais, alguns orgânicos produzidos por animais que se criam também de forma ecológica, assim como fermentos que tenham sua origem na mesma região.
Um vinho para cada terra e clima
Em sua opinião, o vinho resulta da peculiar simbiose que se estabelece entre a terra e o clima do determinado local onde é elaborado. Essas duas condições são as que fornecem a cada bebida as qualidades específicas que as diferencia, e que são tão apreciadas por seus admiradores.
Em sua opinião, o vinho resulta da peculiar simbiose que se estabelece entre a terra e o clima do determinado local onde é elaborado. Essas duas condições são as que fornecem a cada bebida as qualidades específicas que as diferencia, e que são tão apreciadas por seus admiradores.
"Não podemos mudar o clima, mas se mantivermos as condições do terreno de maneira artificial, com água e adubos, faremos com que os vinhos sejam menos originais e haja poucas diferenças entre um e outro. Cada solo tem uma composição distinta, assim como o clima. Dessa forma, o terreno perde as características particulares", destacou o viticultor.
A normativa da Sociedade Espanhola de Agricultura Ecológica determinou que a produção de vinho ecológico deve diferir da produção de vinho convencional em vários aspectos tanto no cultivo da uva como na posterior elaboração do vinho.
Em primeiro lugar, a produção ecológica proíbe o uso de agrotóxicos e adubos de origem química de síntese. Em seu lugar, para se adequar às normas estabelecidas, apresentam-se as práticas alternativas baseadas na fertilização com materiais de origem orgânica, como a compostagem, os adubos verdes e os resíduos de colheitas. A vantagem é que outros agricultores podem aproveitar o restante das produções originais.
"A novidade é o não ecológico"
Embora o ecológico esteja na moda, devido a uma maior conscientização quanto aos problemas ambientais do planeta, o vinho ecológico não é nenhuma novidade. "Eu sempre digo que é o método que meu avô tinha de cultivar. Há muita gente que, quando se fala de agricultura ecológica, acha que se está falando de uma coisa nova. Mas, na realidade, a novidade é o não ecológico", ressaltou Cambronero.
Embora o ecológico esteja na moda, devido a uma maior conscientização quanto aos problemas ambientais do planeta, o vinho ecológico não é nenhuma novidade. "Eu sempre digo que é o método que meu avô tinha de cultivar. Há muita gente que, quando se fala de agricultura ecológica, acha que se está falando de uma coisa nova. Mas, na realidade, a novidade é o não ecológico", ressaltou Cambronero.
Além dos prejuízos causados pelos produtos químicos nas características dos vinhos tão apreciadas tradicionalmente, existem outros mais graves que afetam a saúde dos seres humanos.
Francisco Cambronero, que possui uma adega familiar no município de Fuentealbilla (leste da Espanha) produtora de vinhos ecológicos, explicou: "nós não utilizamos produtos orgânicos de síntese porque, por não serem naturais, não sabemos os efeitos que eles têm a longo prazo sobre a saúde".
"Muitas vezes o aumento de câncer, alergias ou outras doenças podem ser associadas a esses produtos. Mas essas relações são muito difíceis de ser estudadas por causa das altas quantidades de produtos químicos que utilizamos na elaboração dos alimentos que consumimos que se relacionam uns com os outros", explicou o enólogo.
O uso de agrotóxicos também contribui para contaminar a natureza, a ponto de danificar seriamente águas e terras, impedindo-as de serem usadas pelas gerações futuras.
"Se utilizamos agrotóxicos, estamos contaminando o terreno, e uma contaminação deste tipo pode permanecer por milhares de anos. Temos de pensar no que deixamos para as gerações posteriores. Há muita água que já não pode ser bebida devido ao nível de nitritos que contém decorrente dos adubos utilizados, motivo pelo qual o uso destes começa a ser proibidos em algumas regiões", acrescentou.
Vinho sem álcool
Mas as maneiras de se conseguir um bom vinho não se resumem à melhora da qualidade com uvas bem cuidadas e um processo ecológico e natural de elaboração delas em vinho. Também surgiram empresas que se dedicam a fabricar vinhos sem álcool.
Ramón Bodenlle, biólogo e produtor de vinhos sem álcool das Adegas Élivo, conta como começou a aventura de introduzir vinhos sem álcool no mercado, uma peculiaridade ainda estranha para os bebedores frequentes.
"Nós estávamos trabalhando em uma pesquisa que relacionava os efeitos do vinho ao álcool na saúde humana. Os principais recaíam sobre o sistema cardiovascular. O consumo frequente pode provocar uma redução das plaquetas e também um aumento da dilatação das artérias. Em consequência, pode aumentar o risco de infartos de miocárdio e doenças relacionadas à formação de trombos", ressaltou Bodenlle.
Ele e sua equipe de pesquisadores pensaram que era o momento de criar um vinho que não causasse problemas, nem legais nem salubres, mas que mantivesse as características olfativas e gustativas.
"Não tínhamos nenhuma ideia de mercado", reconheceu o biólogo. "Por isso, fizemos uma primeira prospecção com mostras do produto. Vimos que a ideia despertava interesse e que o produto podia ter boa recepção, por isso começamos a desenvolver a tecnologia. Primeiro com uma equipe pequena, que agora já se transformou em outra que pode chegar a produzir 12 milhões de litros de vinho sem álcool por ano."
A técnica de processamento começa por buscar os vinhos que melhor se adaptam a este método, para transportá-los de seu lugar de origem à fábrica de retirada de álcool. "O processo consiste em aumentar a pressão e a temperatura até 36 graus centígrados, com o que se consegue que o vinho passe à fase de vapor. Uma vez conseguida esta fase, extrai-se o vapor de álcool, resultando num vinho sem álcool", concluiu Ramón Bodenlle.
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