Uma garrafa de vinho é o presente curinga nessas ocasiões. É um artigo com algum toque de sofisticação
Presentear os pais em seu dia é uma tarefa um pouco mais complicada do que, por exemplo, escolher um agrado para as mães. Quando o segundo domingo de agosto se aproxima sempre surge a dúvida: o que dar para o meu pai? Camisa, gravata, pijama? Pouco criativo, certo? Que tal um vinho! Uma garrafa de vinho é o presente curinga nessas ocasiões. É um artigo com algum toque de sofisticação, um objeto de desejo em alguns casos, um desejo de consumo em outros e no geral causa uma boa impressão tanto em quem sabe a diferença entre um cabernet sauvignon e um pinot noir como naqueles que se aproximam de uma garrafa do fermentado apenas em ocasiões especiais.
Decidido o presente, vem o segundo passo. Qual vinho comprar para o progenitor em seu dia? Aí a rolha torce o gargalo. São centenas de rótulos, variedades e preços. Como acertar no vinho? Gosto é um sentido muito particular, é resultado do meio que se vive, de experiências gastronômicas, e de um elemento mais subjetivo ainda, aquela associação entre o paladar e a memória. Já a escolha de um presente vem acompanhada também da grana que você pode gastar no mimo.
Você conhece o gosto do seu pai para vinhos? Se sabe, a escolha é fácil, basta comprar na sua loja de confiança ou site preferido. Se não conhece seu gosto, você pode optar por um corte diferente: escolher o vinho pelo tipo de experiência que seu velho tem com a bebida, ou mesmo baseado no momento de sua vida.
Para o pai que raramente bebe vinho
Aqui o elemento surpresa e de introdução ao vinho é o diferencial. Não vale a pena gastar muito dinheiro em uma garrafa bacana, pois o seu pai não vai perceber a diferença entre um vinho premiado e outro do dia-a-dia. Talvez até prefira o segundo ao primeiro. A dica é escolher mais de um rótulo de até 20 reais de vinícolas nacionais, chilenas, argentinas, portuguesas e até australianas em oferta, fáceis de encontrar em supermercados e em sites de compras. E você entrega no mínimo duas, três garrafas de presente. Se ele gostar da brincadeira e o vinho se tornar um hábito no ano que vem você terá de consultar a sugestão seguinte…
Para o pai que é um bebedor eventual
Seu pai já curte uma garrafa aos domingos, ou com os amigos, mas sempre com aquele argumento que gosta, mas não entende de vinhos. Aqui vale subir um pouco a régua de valor e qualidade, nos mesmos brasileiros, chilenos e argentinos e portugueses (os rótulos mais consumidos no país), e se possível tentar descobrir algum rótulo que ele já provou e tem boas lembranças, para firmar um hábito.
Para o pai que está começando a se interessar por vinhos
Seu pai já não é mais um principiante, lê revistas, livros e quem sabe é até leitor deste blog. Pode estar naquele limite entre o esnobismo (do tipo eu sei tudo) e amadorismo (gira até copo de coca-cola), mas está evoluindo na percepção do gosto e descobrindo novidades Este é o presente que ele espera do seu filho, até como reconhecimento desta sua nova habilidade.
Se o seu pai já tem uma adega, consulte os rótulos armazenados, eles podem dar uma dica de suas preferências. Outra saída é procurar algo diversificado, que aumente sua qualificação de degustador de vinhos, como por exemplo um rótulo da Grécia, uma região menos conhecida da Espanha, como o Priorato, ou um tinto ou branco mais premiado dos mesmo quarteto de países recomendado acima
Para o pai que é especialista
Aqui temos um problema. Todo mundo tem sempre a mesma ideia, afinal papai é um enófilo juramentado, capaz de distinguir um vinho pelo aroma, que reconhece a região pelo rótulo e é até capaz de recitar de cor as principais safras de cada país. Ou seja, para o resto da família papai é um enochato e presentear com uma garrafa pode significar entrar em terreno minado.
Se você tem dinheiro disponível, a solução é fácil, vá até uma boa loja multimarcas ou sites de importadoras e procure aqueles rótulos com boa pontuação de Robert Parker, Wine Spectator, Gambero Rosso, Decanter etc e não tem muito erro (a não ser que ele seja daquele tipo off Broadway, que detesta os críticos de mercado). Se a grana está curta, um conselho, esqueça o vinho e parta para um produto relacionado, por exemplo um bom livro sobre o tema. A chance de você receber um sorriso amarelo diante de um rótulo mais ou menos é muito grande para arriscar seu rico dinheirinho.
Para o pai que defende causas verdes
Há vinho para todo estilo de gente. Pais verdes, militantes do planeta e que nem por isso abdicam de uma boa taça de vinho têm uma forte relação com produtos orgânicos e biodinâmicos. Estes tipos de vinho são certificados e seguem algumas regras mínimas: como buscam um vinho mais natural, não usam defensivos agrícolas – apelam para recursos naturais para controle de pestes -, evitam aquelas garrafas muito pesadas, são contra uso de leveduras de laboratório e outros artifícios químicos para correção das safras.
Como conceito, o vinho é um produto da natureza e qualquer interferência é condenada. Já os biodinâmicos têm uma relação mais etérea com o cosmo, as estrelas, as fases da Lua e o ciclo da terra. Pode até parecer papo alternativo mas é uma tendência que vem crescendo na indústria do vinho e o resultado de fato surpreende no sabor e aromas menos fabricados e mais instigantes. Para pai verde, um vinho odara! É fácil reconhecê-los, no geral eles alardeiam seu diferencial orgânico ou bio no próprio rótulo.
Para o pai que é estrangeiro ou morou no exterior
Se existe a escolha do vinho por tipo de consumidor, também existe a decisão por afinidades. Pais nascidos em outro país ou que viveram um período fora do Brasil provavelmente vão ter uma afinidade afetiva com caldos de sua origem – ou que remetam a um passado estrangeiro. Pais italianos, portugueses, espanhóis, franceses, chilenos e argentinos estão bem servidos de rótulos no país, mas mesmo aqueles libaneses, austríacos, alemães também podem ser contemplados. O Brasil importa vinhos de mais de 25 países. É fácil encontrar um que combine com as origens de seu pai. É uma maneira bacana de reforçar os laços que envolvem suas raízes. E uma boa desculpa para abrir um vinho com o velho, em memória dos bons tempos…
Se o seu pai é separado de sua mãe
Se a separação é recente, aposte num tinto encorpado, meio alcoólico, um vinho meio cowboy, quase mastigável, com forte presença de aromas tostados de barrica, daqueles que sua mãe certamente iria odiar. Serão dois prazeres em uma só garrafa. Geralmente são aquelas garrafas pesadonas, malbecs argentinos, tempranilos da Rioja, tannat uruguaios. Tanto melhor se forrem desarolhados junto a um suculento naco de picanha sangrando… Um momento ogro das vinhas.
Para o pai que resolveu assumir que é gay
Acontece, né? Se eventualmente seu pai resolveu sair da adega, então por que não brindar esta opção corajosa do velho com uma garrafa de vinho? Um pai gay, portanto, merece um espumante rosé nacional – são ótimos -, que claro não é uma bebida exclusiva para gays, mas é uma maneira bem-humorada de presenteá-lo e curtir sua opção sexual com brinde animado.
Para aproximar a relação com seu pai que está estremecida
Pais e filhos são humanos, demasiadamente humanos, e nem sempre a relação é boa. Se o vinho aproxima as pessoas, ele pode também resgatar uma relação familiar que o tempo, por alguma razão, arranhou. Um porto envelhecido, do tipo Tawny, ou de safras exclusivas, do tipo Vintage, são a dica. São fortificados intensos, chamados vinho de meditação, que acompanham bem um charuto e são o elixir da boa conversa. Pode ser um bom empurrão para uma aproximação entre vocês, um momento em que as fraquezas e fortalezas desta relação podem ser aplainadas. Afinal é um consenso entre os bebedores que compartilhar um vinho pode ser tão bom, ou melhor, do que apenas degustá-lo. E você e seu pai merecem este tempo mais esticado para passar a vida a limpo, entre um gole ou outro de um Porto.
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