Por que os charutos cubanos são os melhores do mundo
É um consenso: caipirinha, só brasileira e charuto, só cubano. Os mais famosos são o Monte Cristo, o mais vendido no mundo, e o lendário Cohiba, preferido do comandante Fidel Castro. Atualmente a ilha já comercializa marcas mais populares como a Guantanamera. Hábito cultivado por Winston Churchill, Ernest Hemingway, Michael Jordan, Linda Evangelista, Grouxo Marx, Catarina Rússia, Freud, Tony Belotto e Roberta Miranda, hoje é apreciado também por mulheres e jovens. Em Cuba, ele é fumado em ruas e praças. Já os brasileiros degustam em momentos de relaxamento como um ritual, um passatempo. Os europeus fumam no dia-a-dia a qualquer hora, enquanto caminham pelas ruas ou trabalham.
"Fumar charuto não masculiniza. Foi uma mulher quem inventou o selo (de charuto) para não amarelar os dedos"
Roberta Miranda ao Conta Mais SP em agosto de 2001
Os puros, como são chamados pelos cubanos, são o terceiro produto de exportação da ilha, atrás somente da cana-de-açúcar e do café. Das 300 milhões de unidades produzidas por ano, metade é exportada para mais de 120 países. São os chamados puro premium – confecionados à mão – que também são destinados ao consumo interno de turistas. Só o Brasil consome 1 milhão de charutos cubanos por ano.
A maior fabricante de charutos do mundo, a Habanos, é uma fusão da estatal Cuba Tabaco e da empresa franco-espanhola Altadis. Existem mais de 50 fábricas de charutos na ilha, que juntas geram cerca de 220 000 empregos. Os preços podem variar de US$ 100 a unidade do Cohiba, a R$ 12,00 o Guantanamera.
O consumo do produto na ilha não é restrito como outros ítens. Por isso, é muito comum encontrar o povo fumando. Eles fumam as marca inferiores de tabaco, produzidas nas regiões menos nobres. O consumo é alto, carca de 150 mil unidades por ano.
"Tenho 95 anos de idade e há 90 não dispenso um puro charuto cubano"
Compay Segundo ao Guantanamera em outubro de 2002
História
A história dos charutos começa muito antes da chegada do navegador Cristóvão Colombo à ilha, em 1492. A península de Yucatán, no México, é provavelmente o local que deu origem ao cultivo do tabaco. Alguns pesquisadores afirmam que as folhas de tabaco eram plantadas há cerca de dois mil anos nesta região. Depois de descobertas pelos Maias, teriam espalhado-se pelo continente, especialmente na América Central. As folhas do tabaco eram consumidas pelos povos nativos em charutos rudimentares: folhas de tabaco enroladas em folhas de palmeira. Eram usadas em cerimônias e rituais.
A Europa só conheceu o tabaco após a viagem de Colombo. Dois marinheiros que haviam sido escolhidos para procurar ouro na ilha relataram que viram nativos "com um tição entre as mãos e ervas para tomar a defumação à qual estavam acostumados", conforme o diário de bordo. Um dos marinheiros, Rodrigo de Jerez, resolveu levar para sua família amostras do fumo. Acabou preso pelo Santo Ofício quando foi visto soltando pelas narinas e pela boca. Foi dado como possuído por forças do mal.
Itália e França, através do embaixador francês em Portugal, Jean Nicot, tiveram contato com a planta pouco tempo depois. A Inglaterra teve seu primeiro contato com o fumo por Sir Walter Raleigh, que o conheceu em viagem pelas Américas. Os primeiros fumantes foram acusados de heresia. Em outras culturas o fumo também demorou a ser aceito, como na Pérsia, onde os fumantes eram condenados à morte. Em 1626 um cientista alemão publicou um estudo sobre as propriedades terapêuticas do tabaco que ajudou a diminuir o preconceito. Durante muito tempo o tabaco foi utilizado como erva medicinal na Europa.
As colônias americanas no século XVII utilizavam cachimbos para fumar. O charuto com o formato que conhecemos hoje foi confeccionado em 1726. Neste mesmo ano, Israel Putman, levou para a os Estados Unidos, que já plantavam o fumo, charutos e sementes de tabaco cubanos.
A produção dos charutos em Cuba foi estimulada em 1821 por um decreto do rei Ferdinando VII da Espanha. Até então, Cuba fornecia o tabaco para a Espanha, sua metrópole, fabricar os charutos em Sevilha.
Em 1840 Cuba já era a maior produtora de charutos do mundo. A qualidade do produto era reconhecida em diversos países. Durante esta década, a produção triplicou no país. Surgiram as tradicionais marcas Partagas, H. Upmann e Romeo y Julieta.
No século XIX os norte-americanos além de importar os charutos cubanos também tinham fábricas do produto que era símbolo de status no país. No período da Guerra Civil americana, 1860, o consumo de charutos aumentou no país.
Com a Primeira Guerra Mundial o consumo cresceu e outros países, como a República Dominicana e México, aumentaram seus números de fábricas. Já a segunda Grande Guerra dificultou o consumo do fumo cubano e colônias como a Jamaica investiram ainda mais no produto.
Um grande marco na produção foi a revolução comunista liderada por Fidel Castro em 1959. As companhias de tabaco foram estatizadas e a Cubatabaco (atual Habanos S.A.) foi criada. Mestres na arte de produzir charutos saíram do país e procuraram outros locais para instalar suas fábricas.
O embargo total imposto pelos Estados Unidos à ilha, ocorrido em 1962, prejudicou a exportação do produto para vários países. Segundo uma lenda, antes de assinar o embrargo, o então presidente americado, John Kennedy, encomendou uma enorme quantidade do produto para abastecer seu estoque pessoal.
Grandes marcas
Em todo o mundo, nenhum charuto é mais vendido que o Monte Cristo. Seu formato mais conhecido é o Nº 2, de sabor acentuado e próprio para apreciadores. Surgiu da união de Alonso Menendez a José Garcia que criou a marca Particulares. Foi criado em 1935 para a venda no mercado exterior. Também é vendido nos formatos Nº 1 (lonsdale), Nº 2 (torpedo), Nº 3 (corona), Nº 4 (petit corona), Nº 5 (trés petit corona), além dos tubos (corona).
O puro mais famoso é o Cohiba, nome pelo qual os índios chamavam as folhas de tabaco. O charuto preferido do comandante Fidel Castro nasceu para ser presenteado por ele e por muito tempo foi conhecido como o "Embaixador Extraordinário" da ilha. De sua criação, em 1966, até 1982 não era comercializado, somente presenteado por Fidel Castro, daí parte da mística em torno do produto. Além disso, é um dos dois únicos que passa por três fermentações. É um dos mais caros da ilha e é considerado pelos plantadores como o mais seleto: suas folhas de tabaco são cultivadas exclusivamente em Vulta Abajo, na Província de Pinar Del Rio. Por causa da produção limitada é um puro muito disputado. A história da sua criação é peculiar: um segurança do comandante estava fumando um puro preparado por um amigo "torcedor" com aroma diferente, que chamou a atenção de Fidel Castro. Após provar o produto, o comandante quis conhecer o torcedor. Interessado em gerar empregos para as mulheres, o comandante mandou o torcedor ensinar o ofício a um grupo delas e inaugurou a fábrica do Cohiba. Seus principais tipos são o Coronas Especiales, Esplendidos, Lanceros, Robusto, Linea Siglo I, II, III, IV, V e VI.
Outro puro tradicional é o Montecristo. Criado em 1935 na fábrica de H. Upmann, também é feito das seletas folhas de tabaco cultivadas em Vuelta Abajo. Dizem que seu nome é inspirado no romance O Conde de Montecristo, de Alexandre Dumas, pois era a leitura preferida de um grupo de torcedores. Seus tipos mais conhecidos são Nº 1 ao Nº 5.
"Como disse Chico Buarque, dinheiro é bom para comprar uísque, charuto e pagar o aluguel"
Frase de Tom Jobim em seu site oficial
Como nasce um verdadeiro puro
Um dos motivos que torna os charutos cubanos os melhores do mundo é o microclima da ilha. As características do solo, da temperatura e do ar são extremamente particulares. Cada região de cultivo produz um tipo diferente de tabaco. A província de Pinar del Rio é a maior produtora de fumo, em especial na região de Vuelta Abajo, uma área de cerca de mil hectares onde encontra-se o subdistrito de San Luis e San Juan y Martínez. O banco de sementes do governo controla o estoque que é entregue pelas empresas produtoras e redistribui as sementes para que cada produtor tenha a exclusividade do tipo de fumo que cultiva. Do plantio das sementes à colheita das folhas de tabaco leva-se de 45 a 60 dias. A planta do tabaco mede entre 1 e 2 metros de altura.
Processo de produção
Um charuto é composto por três partes: miolo, capote e capa. Depois de colhidas, as folhas da planta são amarradas em maços e penduradas em suportes nas casas de tabaco para secar e amadurecer. Essas casas têm rigoroso controle de unidade e temperatura. Então, as folhas perdem volume e ficam mais espessas e amarronzadas. Os talos são separados das folhas para a fermentação. Durante a fermentação as folhas ficam em caixas agrupadas por maços e são movimentadas constantemente para que o processo seja homogêneo. Cada fermentação dura em torno de um mês. A fermentação elimina as impurezas, a nicotina e refina o sabor do fumo. Na primeira fermentação a temperatura atinge 42º.
Entre as fermentações, as folhas são separadas de acordo com a cor (entre castanho claro e marrom escuro), o formato, a espessura e a resistência. As folhas de tabaco destinadas aos charutos Cohiba e Montecristo passam por três fermentações, já as demais por duas. Os tabaqueiros elaboram os charutos manualmente. Preparam o miolo torcendo e agrupando as folhas. Depois, colocam em formas diferenciadas e prensam por uma hora. Cada profissional faz mais de 100 unidades por dia. O charuto recebe uma capa, também feita de folha de tabaco. Então o puro é cortado com uma faca curva chamada chaveta. Uma das pontas é selada com uma goma vegetal incolor e inodora. Depois ele é guilhotinado de acordo com seu tipo. É enviado a um rigoroso controle de qualidade manual que verifica tamanho e espessura. Para harmonizar os aromas da capa e do miolo, os charutos descansam em caixas de um tipo de madeira que não transmite odores por cerca de quatro semanas. Então são separados de acordo com suas matizes para que cada caixa tenha as mesmas cores. Em cada charuto é colocado um anel de identificação.
"Bebo muito. Quase não durmo e fumo um charuto atrás do outro. É por isso que estou 200 por cento em boas condições físicas e mentais"
de Winston Churchill para um marechal
Conservação
O aroma e o sabor do charuto ficam garantidos se a umidade estiver em torno de 70% e a temperatura 21ºC. Com este grau de umidade a capa não fica seca a ponto de romper-se e o puro não mofa. Caso o consumidor não tenha um umidificador profissional, pode guardar seus charutos em um armário comum onde circule ar fresco e não bata sol. Um pequeno pote de água garante a umidade adequada. Não é recomendável guarda-los em geladeira.
Como reconhecer um verdadeiro puro
Para ter o prazer de degustar um legítimo charuto cubano deve-se observar algumas condições que garantem que não é um produto falsificado. Deve-se comprar somente em lojas autorizadas, verificar o selo de importador exclusivo e o selo de Cuba na caixa. A caixa tem um único prego, usado para fechá-la. A palavra Habanos deve estar em um selo vermelho e amarelo no lado superior direito da tampa. Deve estar lacrada com um selo verde na lateral esquerda. No fundo da caixa deve estar escrito em relevo Habanos S.A. e Hecho en Cuba. Caso seja feito à mão, deve estar também escritoTotalmente a mano ou Hecho a mano se o miolo for feito à máquina e a capa enrolada manualmente. Se for feito totalmente em processo industrial nada estará escrito. Esta marca é feita com ferro quente. Os charutos devem ser do mesmo tamanho e ter a mesma cor. Os pequenos anéis que envolvem cada unidade devem estar voltados para frente. Se você retirar duas unidades da direita, deve conseguir ver a segunda camada de charutos através de um corte na folha de cedro que separa as camadas.
"O charuto é quase uma extensão do meu rosto. Este é um dos meus vícios, é vício confessável, exibido. Um bom charuto é um prazer cotidiano, mágica fumaça consoladora"
de Câmara Cascudo - site Memória Viva
Veja a lista de onde comprar e degustar puros cubanos em seis capitais:
Belo Horizonte
Café Kahlúa – Centro
Palmieri Café Club
Cafeteria 3 Corações
Brasília
Atual Office Tabacaria – Parkshopping
Revistaria & Tabacaria Midia – Lago Sul
Varanda do Fred – Lago Norte
Curitiba
Bice – Batel
Boulevard – Centro
Café Maria – Champanhat
Chalet Suisse – Santa Felicidade
Durski – Alto do São Francisco
Empório Anarco – Batel
Hotel Bourdon – Centro
Il Cenacolo – Jardim Schaffer
Ille de France – Centro
Le Réchaud – Mercês
Maison Suisse – Cabral
Serafinni – Batel
Tesoros de Cuba – Batel
Varadero Cigar Club – Batel
Loja Expand – Batel
Tabacaria Pipe Shop – Shop Hauer
Porto Alegre
Favorite
John Bull Pub – Shopping Total
Mercato Jazz – Moinhos de Vento
Puros Tabaccos
Rio de Janeiro
Esch Café – Centro
Esch Café – Leblon
Tabacaria Africana – Praça XV
São Paulo
Tabacaria Lenat – Shopping Iguatemi
Hotel Emiliano
Figueira Rubayat – Jardins
Leopolldo Plaza – Jardim Europa
Tamanduá Cigar Bar – Moema
Davidoff – Moema
Lenat – Oscar Freire
O Drake's Bar & Deck – Pinheiros
Rey Castro
Amauri Café – Jardim Europa
Dinossauros Rock Bar – Pinheiros
Oxford Pub – Consolação
Baar Indepandente – Consolação
Corcoran's Irish Pub – Itaim Bibi
All Black Irish Pub – Jardins
Rosmarino – Pinheiros
Consulado Del Charuto – Brooklin
Lenat – Cidade Jardim
The View Bar
Sir Winston
Na Mata Café – Itaim Bibi
Upstairs Bar & Lounge – Grand Hyatt São Paulo
Mr Blues – Itaim Bibi
Tonton – Moema
O´Malleys – Jardins
Toro – Jardim Paulistano
Anquier – Higienópolis
Restaurante Hampton
Mercearia Do Jockey Club
Bar Havana Club
Hampton
Hotel Renaissence – Alameda Santos
A Estalagem – Moema
Fidel – Vila Madalena
Montecristo
Federação Paulista De Golf – Congonhas
Sympá
Paralelo 12:27 – Vila Mariana
Astor – Vila Madalena
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